Editorial
Do novo e das revistas
José Manuel dos Santos e António Soares

Falar, de novo, do novo é pedir ao tempo que nos dê as palavras com que ele se torna outro — ou com que se nos mostra diferente no seu fluxo, entregando-nos os signos que poderiam dizer como Arthur Rimbaud: «Je est un autre.» É nesse movimento de mudança, ruptura, revolução, heresia, revelação, que os verbos, com os seus tempos, passam do passado ao futuro e que os nomes, com os seus poderes, nomeiam o que está a nascer, a emergir, a romper, a mostrar-se, a dizer-se.

minotaure matisse

Capa da autoria de Matisse para o número 9 da revista surrealista francesa Minotaure, dirigida por André Breton e publicada entre 1933 e 1939

 

Olhando o tempo, nas suas variadas concepções, pois é elaboração subjectiva em Santo Agostinho, apreensão empírica em David Hume e intuição pura do espírito em Immanuel Kant, é no vínculo, feito, desfeito ou refeito, entre o que foi, o que é e o que será o mundo e nós nele que o novo se anuncia, se desvela, se afirma, e se joga, num jogo interminável em que aparece, desaparece e reaparece com os seus rostos de luz e as suas máscaras de sombra.

Assim, o novo é, ou pode ser, claro e confuso, patente e latente, verdadeiro e falso, real e virtual, potencial e actual, bom e mau, positivo e negativo, existente e utópico, feio e belo, previsto e imprevisível, individual e colectivo, natural e artificial, sendo, às vezes, algumas destas coisas, ou a sua intersecção, ao mesmo tempo. O novo é, ou pode ser, criação, descoberta, invenção, recuperação, recusa, desvio, promessa, ameaça, tendência, repetição (eterno retorno). É, ou pode ser, sujeito e objecto, forma e conteúdo, tema e técnica, método e estilo. É, ou pode ser, início e fim (a morte é para cada vida que nela termina um novo absoluto), proximidade e distância, aura e vestígio, pensamento e sentimento. Por isso se diz que o novo não é, em si e por si, um valor.

A história do novo encontra, a cada passo, a história da filosofia e da teologia, da arte e da ciência, da literatura e do cinema, da política e da comunicação, da ideologia e da tecnologia, da antropologia e da cosmologia, da psicologia e da sociologia, da propaganda e da publicidade, da arquitectura e do design, do teatro e da moda, do desporto e da música, do corpo e da mente, das sensações e do erotismo, da natureza e do clima.

Algumas vezes, chama-se novo ao velho (ou ao antigo) para disfarçar o seu arcaísmo e a sua caducidade. Outras vezes, chama-se velho (ou obsoleto) ao novo para diminuir o seu perigo, descredibilizar a sua esperança e desvalorizar o seu impulso criador e subversivo.

Ao novo, juntam-se também palavras que lhe dão apoio, sequência, eco e sintonia. Essas palavras são: novidade, inovação, renovação. E descontinuidade, originalidade, modernidade, contemporaneidade.

Provindo do grego, «neo» passou a ser o prefixo de palavras que se sucederam e multiplicaram, nos nossos dias saturados e perplexos, para dizer a reiteração, a reivindicação ou a reapropriação de ideias, conceitos, escolas, correntes, acontecimentos do passado. Alguns exemplos: neoconservadorismo, neoliberalismo, neobarroco, neofigurativo, neofascismo, neopaganismo, neocolonial, neovanguarda, neokeynesiano.

Somando a neo uma lista crescente de outros prefixos, como pós, hiper, ultra ou trans, há quem veja, nesse exercício genealógico de classificação, a má consciência obsessiva da nossa época pelo novo e a sua incapacidade de se criar a si mesma e de se definir sem o recurso a palavras antes codificadas e sem a referência a épocas passadas. Já se disse que o nosso é um tempo em segunda mão. George Steiner afirma logo no começo das Gramáticas da Criação: «Já não temos começos.»

Michel Foucault fez da interrogação sobre a novidade um barco que percorre o mar profundo e largo da sua obra, ligando-a à episteme, entendida como o conjunto das relações que unem, num dado período histórico, as práticas discursivas que geram figuras epistemológicas, permitindo a criação de novos discursos e de novos conhecimentos.

Na sua obra As Palavras e as Coisas, questiona: «Que quer dizer inaugurar um pensamento novo?» E prossegue:

O descontínuo — o facto de, no decurso de alguns anos, por vezes, uma cultura deixar de pensar como até aí fizera e se pôr a pensar noutra coisa e doutro modo — requer, certamente, uma erosão do exterior, desse espaço que, para o pensamento, se encontra do outro lado, mas em que, no entanto, ele não deixou de pensar desde a origem. Em última análise, o problema que se põe é o das relações do pensamento com a cultura: como se explica que o pensamento tenha um lugar no espaço do mundo, que este seja como que uma origem dele e que ele não cesse, aqui e ali, de começar sempre de novo?

Da passagem do tempo circular ao tempo linear, da estabilidade ao progresso, do mesmo ao outro, do Novo Testamento, com os Evangelhos Canónicos ou Apócrifos, ao Novum Organum de Francis Bacon, do Novo Mundo de Colombo à Sinfonia do Novo Mundo de Dvořák, do Estado Novo de Salazar ao New Deal de Roosevelt, do Nouveau Roman às Novas Tecnologias, da New Education à Nouvelle Vague, da Art Nouveau (e da Jugendstil) à New Age, da Vita Nuova de Dante ao Mar Novo de Sophia de Mello Breyner Andresen, da Nova Dança ao Novo Circo, do Nu Metal à New Wave, das Novas Identidades às Novas Famílias, dos Novos Filósofos à Nouvelle Cuisine, da Nouvelle Critique às Novas Vanguardas, da Neue Nationalgalerie de Berlim ao New Museum de Nova Iorque, das Novas Oportunidades às Novas Tendências, dos Novos Poderes às Novas Guerras, do Admirável Mundo Novo de Huxley ao Homem Novo de Hitler e Estaline (no catálogo da exposição de Jean Clair «Les Années 30: La fabrique de “l’homme nouveau”»), da Nova Amesterdão à Nova Inglaterra, a palavra «novo», dita e escrita em todas as línguas e em todas as linguagens, atravessa a natureza e a cultura, o saber e o fazer, a vigília e o sonho, o corpo e a mente, os deuses e os astros, os humanos e os outros animais, os vegetais e os minerais.

A palavra «novo» usa-se para dizer coisas novas ou para dizer coisas novas de coisas antigas. Logo no início desse monumento de acontecimentos e personagens, criados ou recriados pelas palavras, que é a obra Guerra e Paz, ao descrever o salão e a anfitriã da cena inaugural da narrativa, escreve Lev Tolstói: «Anna Pávlovna estivera com tosse durante alguns dias, tinha gripe, como ela dizia (gripe era então uma palavra nova, usada só por raras pessoas).» Há, nesta prosaica anotação objectivamente factual e aparentemente circunstancial, linguística, medicina, psicologia, sociologia e política.

Na história da arte, o novo como ideia, visão, propósito, projecto e manifesto apresenta-se e assume-se como uma veemência do visível.

No século xix, cada Salon des Indépendants e cada Salon des Refusés era uma passagem do antigo ao moderno e uma pátria apátrida do novo. E, na primeira metade do século xx, do futurismo ao dadaísmo, do cubismo ao surrealismo, do fauvismo ao vorticismo, surge uma sucessão continuada de rupturas e revoluções feitas em nome do novo, da novidade e da inovação.

Em conversa com André Malraux, afirma Picasso: «Temos de fazer o que não está lá, o que nunca foi feito […], o pintor nunca deve fazer o que as pessoas esperam dele.»

Para os surrealistas, a busca do novo podia e devia fazer-se no antigo e no distante, como aconteceu com Antonin Artaud, no México, ao ir viver com os Tarahumaras. Dessa experiência ritual nasceu o relato Viagem ao País dos Tarahumaras, que se tornou um clássico da revelação e da procura do novo no mito mais antigo.

Já antes, numa das suas iniciáticas cartas para o irmão e cúmplice Theo, Vincent van Gogh, «o suicidado da sociedade», como lhe chamou Artaud, fala do seu amigo Paul Gauguin, com quem estava a viver e a trabalhar em Arles, e da sua busca do novo no distante, dizendo:

Mesmo trabalhando duramente aqui, Gauguin continua a ter saudades dos países quentes. E realmente é incontestável que se fôssemos, por exemplo, a Java, tendo a preocupação de fazer cores, veríamos um monte de coisas novas. Para mais, nestes países mais luminosos, sob um sol mais forte, tanto a sombra própria como a sombra projectada dos objectos e das figuras torna-se totalmente diferente e é tão colorida que somos simplesmente tentados a suprimi-las. Isto já acontece aqui.

E afirma numa carta a Émile Bernard: «Ora eu, que pressinto um novo mundo, que por certo acredito na possibilidade de um imenso renascimento da arte…»

Podemos fazer esta pergunta radical: O novo existe mesmo? No Antigo Testamento, no Livro de Eclesiastes, afirma-se: «O que foi, será, / o que se fez, se tornará a fazer: / nada há de novo debaixo do sol.»

A Bíblia foi escrita na terra do tempo, a pensar no céu da eternidade, e o seu texto situa-se e hesita entre essa eternidade e o tempo. Anda com esses dois pés e os seus passos trocam-se e destrocam-se nesse balanço. Todo o seu primeiro livro, o Génesis, é uma imparável e épica narrativa da criação do novo. E Jesus, no Evangelho de São João, diz: «Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros.»

Ao falar de Henri Bergson, o autor da Evolução Criadora, o filósofo Gilles Deleuze fez esta afirmação fundamental: «Bergson mudou a filosofia ao pôr a questão do novo que se está a fazer em vez da questão da eternidade.»

À pergunta radical sobre o novo, respondeu assim o pintor Eugène Delacroix: «O novo existe e pode mesmo dizer-se que é precisamente tudo o que há de mais antigo.» O pintor e escritor Almada Negreiros, companheiro de Fernando Pessoa na revista Orpheu, fez desta afirmação um fundamento para a sua visão da arte e da cultura, prosseguindo, inspirado por esta visão, as suas obsessivas investigações numerológicas e geométricas.

E Marcel Proust, com o seu talento para dar ao paradoxo uma forma lapidar, advertiu: «A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.»

Ao longo dos tempos, as querelas entre velhos e novos, antigos e modernos, tradicionalistas e revolucionários foram acontecendo e algumas delas são marcos na história da cultura. Entre elas está a famosa «Querelle des Anciens et des Modernes» (ou «Querelle des Classiques et des Modernes»), que teve a Académie Française como sede, em finais do século xvii. É um debate que ainda não findou, ressurgindo volta e meia com o mesmo vigor violento de outrora.

Em Portugal, uma das polémicas fundadoras da modernidade política e cultural deu-se na segunda metade do século xix e ficou conhecida por «Questão Coimbrã» ou «Questão do Bom Senso e Bom Gosto». Nela, o filósofo e grande poeta Antero de Quental, um dos nomes maiores da Geração de 70 e porta-voz da Ideia Nova europeia do socialismo, do realismo e do naturalismo, escreveu, numa carta aberta ao escritor António Feliciano de Castilho, tido como chefe de fila da literatura institucional, tradicional, oficial, consagrada e consagradora:

orpheu fernando pessoa santa rita pintor almada negreiros mario de sa carneiro

Orpheu, «revista trimestral de literatura», na qual colaboraram Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Santa Rita Pintor. A capa deste segundo número, de Abril–Junho de 1915, é da autoria de José Pacheco

 

Mas é que a escola de Coimbra cometeu efectivamente alguma coisa pior de que um crime — cometeu uma grande falta: quis inovar. Ora, para as literaturas oficiais, para as reputações estabelecidas, mais criminoso do que manchar a verdade com a baba dos sofismas, do que envenenar com o erro as fontes do espírito público, do que pensar mal, do que escrever pessimamente, pior do que isto é essa falta de querer caminhar por si, de dizer e não repetir, de inventar e não de copiar. Porquê? Porque todos os outros crimes eram contra as ideias: haveria sempre um perdão para eles. Mas esta falta era contra as pessoas: e essas tais são imperdoáveis. Inovar é dizer aos profetas, aos reveladores encartados: «há alguma coisa que vós ignorais; alguma coisa que nunca pensastes nem dissestes; há mundo além do círculo que se vê com os vossos óculos de teatro; há mundo maior do que os vossos sistemas, mais profundo do que os vossos folhetins; há universo um pouco mais extenso e mais agradável sobre tudo do que os vossos livros e os vossos discursos».

É ainda neste ambiente de tensão, disputa, conflito ou mesmo guerra aberta entre novo e antigo, criação e repetição, passado e futuro que o poeta francês Apollinaire, a propósito da morte, em 1918, do escritor, marginal e marginalizado, Joséphin Péladan, autor de uma obra sobre arte que se tornaria depois um livro de culto, Do Andrógino, diz:

Os jornais foram unânimes a dar a notícia da morte de Joséphin Péladan, e concluíram que não lhe foi concedido o lugar que ele merecia. Mas quando fazem o autor de Le Vice suprême responsável por esta injustiça estão a rir-se de nós… Os culpados são os senhores da imprensa, que não procuram nem encorajam o talento, limitando-se a fazê-lo aos que têm uma determinada forma de saber-fazer. Temem acima de tudo espantar os seus leitores; e os autores com ideias novas ou que fazem, pelo menos, um corte com as da multidão são seus inimigos. Mas a injustiça é tão flagrante, que nem a eles próprios escapa. Até chegam, depois da morte da vítima, a consentir que o reconhecem. Rémy de Gourmont foi chorado pelos carrascos e Joséphin Péladan está a ser celebrado pelos seus torcionários.

Com esta acusação, o poeta de «Álcoois» denuncia o conformismo convencional, ou o convencionalismo conformista, da opinião pública e dos órgãos de comunicação que a formam e dela se tornam gestores, súbditos e não raro abusadores. Todos eles, além de acomodados, são incapazes de reconhecer, apreciar, valorizar e divulgar o autenticamente novo. Para eles, entregues a uma rotina estéril, medíocre e inculta, só o velho e o já conhecido e experimentado vale e conta. Ou então o que conta é o falso novo ou o novo falseado.

Há quem ache que, nos nossos dias, com as redes sociais e a sua relação com a comunicação social, a diatribe de Apollinaire ganhou uma nova e enorme razão e um novo motivo de ser. O fim da crítica na comunicação social, trocada pelo comentário, pela opinião ligeira e pela publicidade escondida, enganosa ou oblíqua, é disso também um sintoma ameaçador e sombrio.

Todos esses escritores — Apollinaire, Péladan, Gourmont — fizeram das revistas instrumentos de afirmação e combate. Elas constituíram um gesto de recusa do que existia e de proposta do novo, representaram um «não» e um «sim». Eram uma alternativa, em nome do novo, ao que estava e era velho, cediço, anacrónico, gasto, esgotado, inaceitável.

Era nessas revistas que a vitalidade criativa e combativa se exibia e expandia. Era aí que se lia e que se via o que não se tinha lido nem visto. Era nelas que a vulgaridade bem-pensante, a doxa, o consenso e a mentalidade dominante, considerados tantas vezes como representantes do espírito do tempo, eram postos em causa, inquiridos, insultados, desafiados. É por isso que essas revistas, que deram forma ao seu tempo e anunciaram um tempo por vir, geraram ataques violentos contra elas e provocaram polémicas acesas, controvérsias selvagens, debates duros, movimentos de pressão, campanhas moralistas, censuras e processos judiciais.

Por esses anos em que Apollinaire escrevia o seu feroz libelo contra «os senhores da imprensa», também o grande poeta Fernando Pessoa, figura maior do modernismo português e europeu, criou e dirigiu revistas para revelar o novo, agitar as águas, questionar o estabelecido, fazer requisitórios, mudar a escala de valores, provocar indignações e protestos.

Ao que escreviam, e ao novo dessa escrita, houve médicos e críticos que chegaram a chamar «literatura de manicómio». Era nessas páginas que a sua celebrada educação britânica abandonava a ironia tranquila e elegante. Era aí que essa educação se descompunha e agitava. Era aí que a sua voz tímida e sumida gritava impropérios e clamava que o rei ia nu. Entre essas diversas revistas, a mais importante foi a Orpheu, da qual ele depois falou assim:

Como todos os inovadores, fomos objecto de largo escárnio e de extensa imitação. Não esperávamos, para falar verdade, nem uma coisa nem outra; dadas elas, não nos preocupou uma, nem a outra nos envaideceu. Conjuntas, explicariam nosso intuito a quem porventura o não conhecesse. O simples escárnio nada significa; o escárnio de uns, acompanhado da imitação de outros, designa a inovação.

No entanto, no poeta dos heterónimos, o corpo que gesticula e age na vida, para fazer a vida viver, não se desacompanha da alma que nunca perde ou retira a morte do seu centro. Nele, o espectáculo exterior do mundo é inseparável daquela lucidez íntima e fria que reduz as ilusões e mesmo as desilusões ao pó donde viemos e para onde vamos. No Livro do Desassossego, Bernardo Soares, o semi-heterónimo que quase coincide com o seu criador, fala sobre uma estranha e fugidia espécie de novo:

Todos os dias acontecem no mundo coisas que não são explicáveis pelas leis que conhecemos das coisas. Todos os dias, faladas nos momentos, esquecem, e o mesmo mistério que as trouxe as leva, convertendo-se o segredo em esquecimento. Tal é a lei do que tem que ser esquecido porque não pode ser explicado. À luz do sol continua regular o mundo visível. O alheio espreita-nos da sombra.

interview

Diane Lane na capa da edição de Fevereiro de 1981 da nova-iorquina Interview, a revista criada, em 1969, por Andy Warhol

 

avalanche

A Avalanche foi publicada em Nova Iorque entre 1970 e 1976. Aqui, a edição da Primavera de 1972 com Lawrence Weiner na capa

 

wendingen samuel jessurun de mesquita

Wendingen de Janeiro de 1932 com capa de Samuel Jessurun de Mesquita

 

A história do novo encontra muitas vezes a história das revistas culturais e literárias, artísticas, arquitectónicas, teatrais, cinematográficas, científicas, filosóficas. E também já se notou que a história da cultura, nos últimos séculos, poderia ser feita através da insistente história das suas revistas culturais como o fio de Ariadne do seu intrincado labirinto.

Fazer uma revista é dar ao novo uma oportunidade em cada edição que se faz para a fazer. No número inaugural da Electra, escrevemos: «Esperemos que, não deixando de ser o que são, todos os números sejam os primeiros dos seguintes e os últimos dos anteriores.»

Do conteúdo à forma, do texto às imagens, da direcção de arte ao design gráfico, do programa editorial ao critério estético, as revistas mostraram o novo, falaram do novo, assumiram o novo, anunciaram o novo. Foram, nos melhores casos, um testemunho único e esplêndido de novidade e de inovação, de originalidade e de criação, de inesperado e de desconhecido. Estiveram na vanguarda das ousadias visuais, artísticas e verbais. Isto é, estéticas, morais e políticas.

Olhando, hoje, algumas das grandes revistas dos tempos modernos e contemporâneos, como Ver Sacrum, Verve, Il Futurismo, Die Fackel, Blast, Orpheu, Wendingen, Minotaure, Sur, La Nouvelle Revue Française, Les Temps Modernes, Les Cahiers du Cinéma, Interview, Rolling Stone, October, Avalanche, continuamos a descobrir nelas motivos de surpresa, de espanto, de admiração e mesmo de maravilhamento.

Ao dedicarmos o «Assunto» desta edição da Electra ao novo, renovamos o nosso pacto com a responsabilidade que encontra nas revistas a vontade de não nos cansarmos, não nos repetirmos e não nos estagnarmos. É esse o novo que nos interessa e não as suas caricaturas, falsificações, mistificações e abusos.

Fiel aos seus propósitos fundadores, cada número da Electra é um impulso que nos leva a um além de que as edições passadas são sempre o aquém.

 

P.S.: Depois de seis anos com o mesmo preço de venda ao público, a partir deste número, a Electra tem uma actualização do preço de capa. Confiamos que os leitores, conhecedores de uma situação económica marcada pela inflação, compreendam as razões desta actualização. Ainda assim, a revista, graças à Fundação EDP, que a criou, mantém um preço muitas vezes inferior aos seus reais custos editoriais e de produção. Como sempre, contamos com a vossa fidelidade de leitores.